não compre este carro. Subscreva-o!

em 2017 era anunciado que, pela primeira vez em meio século, a Volvo estava ausente no topo da lista dos carros mais vendidos na Suécia, destronada pela marca Volkswagen através do modelo Golf. O célebre compacto alemão tinha conquistado 5,9% do mercado de carros novos em 2016, à frente de três modelos da Volvo, o V70, o S90 e o V90 (que, reagrupados numa só categoria, representaram 5,7% das vendas)
“Há 54 anos que outra marca que não fosse Volvo liderava a classificação. A última vez, em 1962, também foi a Volkswagen que liderou as vendas, com o Fusca”, comemorou a Volkswagen Suécia em comunicado
e a Volvo poderia perfeitamente "ignorar" mais este alerta, cheia de si mesma, do seu sucesso e de como nada pode acontecer a quem é "grande" (como já tantas marcas o fizeram)... felizmente não!

no início de 2018, a Volvo não leva qualquer carro ao Salão de Los Angeles! "This is not a car" ou "Isto não é um carro" era a única coisa que aparecia com destaque no espaço da marca sueca. O objetivo? debater e redefinir o papel dos automóveis no futuro. Para a feira, reservou apenas o anúncio de parcerias nesse sentido com startups e empresas como Amazon e Google

a indústria está mudar.  Por isso, "em vez de apenas construir e vender carros, o que nós realmente disponibilizamos aos nossos clientes é a liberdade de agir de maneira pessoal, sustentável e segura", referiu Håkan Samuelsson, diretor executivo da Volvo Cars


e em finais de 2018, o golpe "direto de direita" na categoria: Não compre este carro. Subscreva-o. 

foi com esta mensagem que a Volvo começou a promover em Outubro o programa Care by Volvo na Alemanha. A marca quer colocar os carros que produz directamente na mão do cliente, que paga um valor mensal fixo (a “subscrição”) em vez de comprar o veículo. O pagamento mensal cobre uma série de despesas, num modelo de negócio em tudo semelhante ao que praticam empresas de outros sectores como o Netflix ou Spotify


nos anos 80 dávamos protagonismo às características e atributos tangíveis dos carros, como velocidade, cavalos, etc. (chamamos-lhes no marketing os benefícios funcionais)... Nas décadas seguintes, apostava-se nos valores da marca e de como estes se alinhavam com determinados estilos de vida (os benefícios emocionais). Até que chega 2018, com uma nova abordagem: "se gosta deste carro, não o compre. Subscreva-o" (a dar significado à utilização do carro, para além da forma como nos faz sentir)

um case merecedor de destaque na implmentação de uma estratégia customer centric! e não preciso de me alongar mais para se perceber porquê. Vale a pena guardar esta sequência de ações, resultados, consequências e (re)ações como um case de boas práticas de estratégia e marketing. Vamos aguardar pelos proximos movimentos e resultados. Farei updates ao post assim que se justificar

quem quiser aprofundar mais vale mesmo a pena ler com atenção a notícia do jornal Público "Não compre este carro" – a nova abordagem da indústria automóvel aqui. Até porque fala de outras marcas, outras iniciativas e se este não será um "renting revisitado". Para os mais interessados, fica a sugestão também da notícia  "Ser dono de um carro vai deixar de fazer sentido" aqui, também do jornal Público