VW, FB e Neo

Mark Zuckerberg veio pedir desculpa pelo uso indevido de dados de milhões de utilizadores pela empresa norte-americana Cambridge Analytica, num anúncio publicado em vários jornais do Reino Unido
Temos a responsabilidade de proteger a sua informação. Se não podemos fazê-lo, não a merecemos

curiosidade 1: o facebook tem cerca de 2.13 biliões de utilizadores ativos mensais no mundo inteiro (e segundo a CNN, 83 milhões de perfis falsos), os jornais foram dados como mortos, o presidente dos EUA usa o Twitter para comunicados oficiais... mas, quando é a sério, mesmo a sério, tem de ir para os jornais?

(afinal) ainda há um ranking de capital de confiança entre o digital e o impresso?

o expresso aproveitou (muito bem) a ideia e deu inclusive um excelente anúncio de (auto)publicidade:


curiosidade 2: a empresa terá perdido mais de 40 milhões de euros do seu valor de mercado desde a divulgação do uso indevido dos dados! parece-me um valor residual para todos os efeitos, mas a questão crítica é: quantos utilizadores (clientes) perdeu? perante a gravidade, deveria ter perdido muitos, certo?... não me parece, nem há qualquer dado sobre isso. Façamos uma pequena "survey": algum dos leitores deste post deixou de usar o facebook por causa disso?

eu não deixei, e acredito que os leitores também não... E porquê?

o que me leva à curiosidade 3: o que há de comum no comportamento do consumidor (cliente, utilizador, o que preferirem), entre a divulgação dos dados sobre as emissões de carbono da VW e a divulgação do uso indevido de dados pessoais dos utilizadores do FB?

a resposta está na curiosidade 2... só queria mostrar um padrão: #TruthIsOverrated... Isto apresar do da importância que o NY Times lhe dá ;)


e de repente deu-me uma vontade enorme de voltar a ler Baudrillard... que não lia desde o lançamento do Matrix. By the way, e como estamos em época de Páscoa...



dos ecrãs tácteis às interacções sem toque

o Projeto Soli da Google está a desenvolver um novo sensor de interação humano/máquina, e a nossa presença é - literalmente - o único interface necessário
Meet Soli. Soli is a miniature radar that understands human motions at various scales: from your heartbeat to the movements of your body.

 
com tecnologia utilizada atualmente em radares, o sensor pode rastrear movimentos de sub-milímetros a alta velocidade e com enorme precisão. O sensor, que se encaixa num chip, pode ser incorporado em pequenos dispositivos ou objetos do quotidiano e produzido em larga escala

o vídeo do projecto:



para detalhes de como funciona, vale a pena visitar o site. O chip Soli pode (e deve) ser incorporado em portáteis, telefones, computadores, carros… you name it

não possui peças móveis e consome pouca energia. Também não é afetado por questões de luminosidade (que poderiam interferir na interacção) e funciona através da maioria dos materiais existentes. É claramente merecedor do hashtag #thenextbigthing

agora, é so Imaginar as (inúmeras) possibilidades...

IA é a nova IA

o debate filosófico entre inteligência artificial (IA) e inteligência aumentada (IA) é recente, com apenas meio século de existência

de um lado, o campo da IA - inteligência artificial - acredita que o futuro da computação é a existência de um sistema autónomo que pode ser ensinado a imitar/substituir funções humanas (máquinas inteligentes); um exemplo recente é o carro autónomo da Google, onde a máquina substitui completamente a intervenção e a interação humana

por outro lado, a IA - inteligência aumentada* - ​​acredita que a tecnologia da informação (hardware e software) pode complementar e aumentar a capacidade - motora e/ou cognitiva - do ser humano, mas deixando sempre o ser humano no centro da interação humano-computador

parece-me muito bem que a indústria abrace a inteligência artificial, mas não tenho qualquer dúvida que a "interação humano <> tecnologia" terá aplicações bem mais criativas e poderosas que a "substituição do humano por teconologia"

nas palavras de Tim Brown (autor de "Change By Design" e CEO da @IDEO) num artigo que encontrei recentemente "Design for Augmented Intelligence: Bringing a human-centered approach to big data and smart machines":  
"Data by itself is inert — dumb raw material. Making things smart will mean designing with data in a way that reflects and responds to human behavior,
(...) designing with data in a way that reflects and responds to human behavior. That means making it dynamic. Flexible. Evolutionary. It will have to exist in relationships. And relationships, as we all know, are complicated. Moreover, we now have relationships not just with each other, but also with our phones and networks and bodies and cars."
gostei particularmente da noção de "design evolucionário", que me levou a este vídeo de Michelle Thaller, atrónoma: "Augmented evolution: Why the definition of “human” is about to change". Uma abordagem extremamente interessante:
 

do vídeo, é particularmente curiosa a afirmação: "he always reminds me that what technology did for him was make him more connected, more emotional". E esta, hein?

quer acreditarmos em Jean-Jacques Rousseau ou não, não serão as máquinas o nosso maior desafio! Seremos nós, como sempre fomos:
"Trabalhos como o “Erro de Descartes” – pela mão de António Damásio – ou o livro “Predictably Irrational” – de Dan Ariely – vieram marcar um ponto de viragem. Mostram como é inquestionável que o que torna os Seres Humanos únicos – diferentes dos restantes animais ou dos computadores – são as emoções e a forma como estas influenciam o que sabemos ou pensamos. As emoções orientam o processo de tomada de decisão, a construção da experiência e a relação das pessoas entre si e com tudo o que as rodeia." (fonte: "O “storytelling” e a gestão de marcas")
*em inglês "Augmented Intelligence" ou "Intelligence Amplification"

tu és único, tu és diferente, tu és especial

como é que as marcas podem chegar aos millenials? agora é mais fácil que nunca

"This Is a Generic Millenial Ad" é um anúncio à geração "milénio", perturbadoramente perfeito, feito exclusivamente de imagens e de vídeos de banco de imagem (stock footage)


o vídeo começa com a voz off a ditar o repto principal "Tu és único. Tu és diferente. Tu é especial" à  medida que vão sendo "lançadas", uma atrás da outra e de forma implacável, cenas que são clichés visuais perfeitos desta geração

só falta a mensagem "insert logo here"



o vídeo foi desenvolvido em parceria entre a equipa da Dissolve, um site dedicado de stock footage, e da agência de design And/Or. Outros vídeos da série, que recomendo vivamente, incluem "This Is A Generic Brand Video" e o "This Is A Generic Presidential Campaign Ad"

este "meta-anúncio" é um alerta à navegação para as marcas e agências, chama a atenção para o perigo de olhar para o target de uma forma "one size fits all", uma tentação em que as marcas e as agências podem cair quando falta tudo, nomeadamente uma compreensão clara do seu target (de comunicação e de consumo)

comportamento do consumidor, Black Friday e Nietzsche

"um blog sobre marcas tem de falar sobre o black friday"... inspirado nesse desafio, aqui fica o meu contributo

"Previsivelmente Irracional" é um livro de Dan Ariely publicado nos Estados Unidos pela primeira vez em 2008, no qual se "desmontam" alguns dos principais pressupostos em relação ao processo de tomada de decisão do ser Humano com base em critérios puramente racionais. Como o próprio Ariely refere: "o meu objectivo, no final deste livro, é ajudá-lo a repensar profundamente sobre o que faz mover as pessoas que o rodeiam"

a "boa noticia" do livro é a conclusão de que o ser humano - apesar de irracional - é previsível (para o melhor e para o pior). E é aqui que entra a "black friday", porque ilustra na perfeição o argumento da irracionalidade e da previsibilidade (neste caso para o pior...):




em 1883, Nietzsche publicou um dos seus livros mais famosos, o "Also Sprach Zarathustra". Central ao livro está a noção de que os seres humanos são uma forma transicional entre os macacos e o que Nietzsche chamou de Übermensch, literalmente "além-do-homem", normalmente traduzido como "super-homem"

e é aqui que a black friday entra novamente. Se Nietzsche tivesse que "descrever" as imagens anteriores, imagino a citação:
“You have evolved from worm to man, but much within you is still worm. Once you were apes, yet even now man is more of an ape than any of the apes.” (Also Sprach Zarathustra, Ein Buch für Alle und Keinen, 1883-85). 
a "boa notícia" (do livro) é que caminhamos para nos superarmos (Übermensch). Ainda bem!