a nova vending machine desta fintech é aula de estratégia phygital

num setor onde a inovação raramente ultrapassa os limites do ecrã, a fintech Revolut puxou dos galões e decidiu sair da caixa — ou melhor, colocar-se dentro de uma. A marca lançou uma máquina de vending que entrega, em tempo real, cartões de débito físicos (gratuitos), imediatamente após a abertura de conta online. Testada no campus da Universidade Nacional de Singapura (NUS) e já vista em Portugal, esta ideia transforma um processo tradicionalmente lento e impessoal numa experiência instantânea, física e memorável. E, ao fazê-lo, reforça a sua ligação com uma geração que valoriza tanto a rapidez do digital como o impacto do real 



num mundo onde o digital domina, a Revolut demonstra uma compreensão (rara) da importância de integrar o físico com o digital — aquilo a que se chama hoje uma verdadeira estratégia phygital. O processo é fluido: o consumidor usa um QR code para aceder, abre a conta na app em poucos minutos e retira o cartão ali mesmo, no local. Esta combinação de conveniência digital com uma presença física imediata é mais do que uma ação de marketing inteligente; é uma redefinição de experiência no setor financeiro;

@viajarcomtripical As máquinas gratuitas do Revolut chegaram finalmente ao Aeroporto do Porto! Já sabiam disto? 😍 @Revolut #revolut #aeroporto #porto #aeroportodoporto #aeroportofranciscosacarneiro ♬ Si Antes Te Hubiera Conocido - KAROL G

num universo bancário tradicionalmente avesso à mudança, ainda fortemente marcado por processos morosos, burocráticos e pouco centrados no utilizador, esta abordagem da Revolut é profundamente transformadora. Rompe com o modelo convencional de onboarding bancário — que ainda envolve impressões em alguns casos, envios por correio e por vezes dias de espera — e propõe uma nova relação com os serviços financeiros: mais rápida, mais visual, mais humana

a entrega física imediata do cartão liga o momento da adesão à experiência da marca de forma tangível e emocional, criando um vínculo instantâneo com o utilizador. Além disso, a presença da máquina em espaços de grande circulação como universidades aproxima a marca de públicos jovens, digitais e exigentes, que valorizam tanto a eficiência como a experiência   

neste cenário saturado de soluções financeiras digitais, a Revolut prova que a inovação não passa apenas por desenvolver tecnologia, mas por saber aplicá-la de forma criativa e relevante no mundo real. Como referi no artigo “O futuro é phygital”, publicado na Marketeer, as marcas mais visionárias serão aquelas capazes de combinar o melhor dos dois mundos — e quando uma fintech consegue ocupar o espaço físico com a leveza de quem nasceu no digital, estamos perante algo verdadeiramente disruptivo

sujar-se nunca fez tanto sentido

tudo começa com um insight desconcertante: “sabiam que crianças passam menos tempo ao ar livre do que presos em regime de segurança máxima?”




a campanha, desenvolvida pela MullenLowe London, dá corpo a esta estatística alarmante através de um paralelismo poderoso: prisioneiros reais a falar sobre o valor do seu tempo no exterior — e a surpresa ao descobrirem que as crianças têm ainda menos acesso ao ar livre do que eles 

a escolha dos prisioneiros enquanto emissores da mensagem não é acidental — é estratégica. Representam o significante da restrição máxima de liberdade, e ao colocá-los em contraste com a infância (tradicionalmente associada à liberdade, brincadeira e inocência), a campanha gera um curto-circuito simbólico

por isso o efeito é poderoso: ao inverter a hierarquia esperada entre liberdade e infância, a campanha desestabiliza o espectador — obrigando-o a reavaliar as suas certezas culturais e sociais. É nesse desconforto que nasce a empatia... e a tomada de consciência

esta campanha (apesar de ser de 2016) é um case study em como alinhar comunicação de marca com uma verdade culturalmente relevante. A Persil não só reforça a sua missão — permitir que as crianças explorem o mundo (e se sujem no caminho) — como também se posiciona como uma marca útil, consciente e empática

ao envolver Sir Ken Robinson, uma autoridade global em criatividade e educação, e ao promover o Outdoor Classroom Day, a campanha transcende o vídeo e afirma-se como movimento social. Esta transição de campanha para causa é, cada vez mais, um requisito para marcas que querem ser culturalmente relevantes (não vivêssemos nós na Era das Causas). Este tipo de ação mostra o poder da criatividade quando usada não só para comunicar, mas para mobilizar (o Ativismo tão na moda)

o verdadeiro ganho para a Persil? Brand equity. A marca passou de um produto funcional a uma facilitadora ativa de uma infância mais livre — um movimento subtil e profundamente eficaz 

sujar-se é o ponto de encontro entre o sucesso do consumidor e o sucesso da marca. Para as famílias, é liberdade e crescimento. Para a Persil, é mais roupa para lavar. Todos ganham, gosto!

em baixo o vídeo do case para os mais interessados:


a armadilha da qual não vais (querer) sair

dois quilómetros sem labirintos?

 
a IKEA está a preparar uma revolução: uma loja de dois quilómetros, uma linha reta que quer resolver de vez o caos dos seus famosos labirintos. Podemos esquecer as voltas exasperantes em busca de uma estante — agora, o caminho é fluído – 'vai reto! segue, segue, segue, não vira!' – pontuado por móveis acessíveis e o aroma irresistível das almôndegas, sempre disponíveis
 

 
simplicidade, dizem. Mas será só isso? será este o alívio que os clientes exaustos (de se perderem) precisam? ou uma armadilha subtil para os reter— e incentivar a comprar mais? a IKEA promete clareza, mas dois quilómetros de puro fascínio levantam a dúvida: libertação ou uma armadilha elegantemente disfarçada? 
 
em 2025, a marca desafia o retalho: será a linearidade o sinónimo do sucesso futuro? 

[nota para memória futura, tudo isto me parece demasiado 1 de Abril 😇 independentemente, vai ser excelente para discutir o tema da jornada do cliente]

Ceci n'est pas une brand: "Trefoil" & "3-Stripes"

no primeiro capítulo do livro Building Strong Brands, David Aaker alerta-nos para o que chama "brand identity traps", onde fala sobre "imprecisões" e "erros" no processo de definição e conceptualização de marca. O primeiro erro - 'A brand is (not) a logo' - é sobre confundir e reduzir a marca ao seu logotipo. Para Aaker, uma marca é um universo complexo de significados, associações e emoções que vão muito além deste elemento visual (apesar da sua importância)
 
senão vejamos:
 
as duas as imagens que se seguem são da segunda mão dos quartos de final da Nations League, Março de 2025, onde a Alemanha recebeu e empatou 3-3 com a Itália
 
foco: nos logotipos nas camisolas!
 



 

as duas imagens que se seguem são da Final de 1993 da UEFA Champions League, entre as equipas do Olympique Marseille e o AC Milan no Olympic Stadium
 
foco: nos logotipos nas camisolas! 


 

e esta, hein? mais de 30 anos separam estes dois blocos de imagens. A consistência mantém-se, e a convicção da marca Adidas também! ainda bem; a Adidias usa os dois logótipos para contar histórias distintas, o "Trefoil" grita nostalgia, o "3-Stripes" desempenho; 

e se eu dissesse que era possivel uma marca ter 2 logotipos diferentes – ao mesmo tempo — no início deste post? alguém acreditaria?

os fatos, são como os chapéus, há muitos!

não tem o humor dos posts em real time de marcas como a Control ou o Licor Beirão, mas tem tanta ou mais perspicácia, arte e irreverência. Neste caso com um layer novo de significado, porque não pretende só entreter, pretende mostrar resiliência, e reforçar o posicionamento do país (como marca) no território da resistência. Campanha desenvolvida para a conta de instagram do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia


 

a sequência de imagens vem acompanhada do texto: 'Hundreds of thousands of Ukrainians changed their smart office attire for military uniforms to protect their homes and families. For others, daily outfits became a symbol of a lifetime mission, sacrifice, and saving lives.  Amid war, Ukrainian suits may look different, but they are all worn with ultimate dignity 🇺🇦' 

a escolha de vestuário do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi objeto de atenção e críticas durante uma reunião na Casa Branca, onde um jornalista questionou Zelensky sobre sua opção por não usar fato (e gravata), sugerindo que essa escolha poderia ser vista como desrespeitosa. Em resposta, Zelensky afirmou que só voltaria a fazê-lo depois do fim da guerra na Ucrânia, indicando que as suas opções relativamente à roupa atual refletem a situação de conflito que seu país enfrenta

embora não haja informações específicas que confirmem que este post no Instagram do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia seja uma resposta direta a essa pergunta, é verdade que o conteúdo do post está alinhado com a narrativa de resistência e solidariedade adotada pelo governo ucraniano

os elementos visuais escolhidos, aliados à mensagem "Ukrainians have their suits" vem reforçar e destacar a identidade e a resiliência diante do conflito em curso. Acho que não precisa de mais muitas explicações, só precisa mesmo é do destaque! 

vale ainda a pena salientar um detalhe, sobre comunicação, discurso e linguagem: à pergunta do jornalista: "Why don't you wear a suit? You're at the highest level in this country's office, and you refuse to wear a suit. Do you own a suit?", a resposta do Presidente Ucraniano foi: "I will wear (a) costume after this war will finish". A palavra "suit" pode ser traduzida para Ucraniano como“костюм”, que se procuncia 'kostyum' – que tal como o inglês "custome" também pode significar "traje de fantasia", tipo de carnaval ou halloween